13.9.06

Bunda mole é ?

Diana acordou às seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.
Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido
de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com
o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido,
enquanto ía, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.
No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante, num congestionamento
monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.
Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que,
segundo soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela, Diana, fez de tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação, não conseguiu.
Pensou se abdômen definido contaria ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.
Tentou em vão achar o marido e, como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se revelou um chato,

neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos próximos meses.
Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado.
Pensou em tudo que ainda ía ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.
Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.
Quando chegou em casa, descobriu que tinha deixado a porra da pasta com o
relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório!
Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar
os malditos papéis na empresa, mas a bosta continuava fora de área..
Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um motoboy lhe trouxesse a porra dos documentos.
Tomou uma merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a
porcaria dos deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.
Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo, reclamando de tudo.
Jantaram em silêncio.
Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono.
Artur a acordou com tesão, a fim de jogo. Como aqueles momentos estavam
cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço de reportagem e transar.
Deram uma meio rápida, meio mais ou menos, e, quando estava quase pegando
no sono de novo, sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte
comentário:
- Tá ficando com a bundinha mole, Diana... deixa de preguiça e começa a se cuidar..
Diana olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de
Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!
Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas!
Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois deu-lhe um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados!
Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: como
controlar as emoções negativas.
Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou.
Não ía valer a pena, não estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada
feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido cega de tensão pré-menstrual...
Resolveu agir com sabedoria.
No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado
rápido, nem brigou com a empregada.
Foi para uma academia e malhou duas horas. De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho.
Ligou para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele e do projeto dele.
E aguardou os resultados da sua péssima conduta, fazendo uma massagem
estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.
Enquanto se hospedava num spa, ouviu o marido desesperado tentar localizá-la pelo celular e descobrir por que ela havia sumido.
Pacientemente não atendeu.
E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado lacônico para a caixa postal dele.
- A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.
Um beijo da preguiçosa...

(Extraído do livro: Este sexo é feminino /Patrícia Travassos).

2 comentários:

Saramar disse...

Ai, que vontade de fazer isso que ela fez depois de mandar o infeliz para a pqp.
Mas, não tenho tempo (risos).

beijos e boa semana pra você.

Santa disse...

KEIKAS

Falha nossa!. Não comunicamos antes.A Santa não está em Recife. Quem está no blog desde o dia 27 é a estagiária (eu). Nada fácil substituí-la, e não fazer feio. Amanhã ela chegará de uma rápida viagem (trabalho). Parabéns pelo blog, beijos e até o segundo turno...

Santinha:))